Humilhação, intimidação, ameaça. Diariamente, estudantes de todas as idades são vítimas desse tipo de violência moral na escola. Os agressores são seus próprios colegas. Como lidar com essa situação?
O bullying, ou violência moral, é um problema que sempre esteve presente nas escolas e ultimamente tem sido fonte de preocupação de pais e professores do mundo inteiro. Estima-se que em todos os países do mundo cerca de 5% a 35% de crianças e jovens em idade escolar estejam envolvidas, de alguma forma, com atos de violência moral nas escolas.
O bullying acontece entre jovens e crianças de todas as classes sociais e não está restrito a nenhum tipo determinado de escola. Por violência moral, entende-se maus-tratos, opressão, intimidação e ameaças que ocorrem de forma intencional e repetida. Isso inclui gozações, apelidos maldosos e xingamentos que magoam profundamente a criança e podem causar sérios prejuízos emocionais, como perda de auto-estima e exclusão social.
Mas, é claro que esporadicamente algumas crianças fazem brincadeiras inofensivas e se utilizam de palavras e comportamentos não adequados durante suas brincadeiras e isto nem sempre pode ser caracterizado como bullying. Este deve conter uma vítima e um agressor, apresentando sinais característicos para identificá-los, e é preciso avaliar a intensidade e o significado dessas atitudes. A observação constante e a parceria entre escola e família são cruciais para a eliminação de tais comportamentos.
Como identificar?
Por meio da observação e discussão sobre o comportamento dos alunos individualmente, os professores podem identificar os alvos e os agressores. As vítimas são alunos frágeis, que se sentem desiguais ou prejudicados e que dificilmente pedem ajuda. Eles podem demonstrar desinteresse, medo ou falta de vontade de ir a escola, apresentar alterações no rendimento escolar, dispersão ou notas baixas. Além disso, podem ter sintomas de depressão, perda de sono e pesadelos. Normalmente recebem apelidos, são ofendidos, humilhados, discriminados, excluídos, perseguidos, agredidos e podem ter seus pertences roubados ou quebrados.
Os agressores normalmente acham que todos devem fazer suas vontades e foram acostumados, por uma educação equivocada, a ser o centro das atenções. São crianças inseguras, que sofrem ou sofreram algum tipo de agressão por parte de adultos. Na realidade, eles repetem um comportamento aprendido de autoridade e pressão. Tanto as vítimas, quanto os agressores necessitam de auxílio e orientação.Os demais alunos são os observadores da violência. Eles convivem com ela e se calam ou são ignorados em suas observações por pais e professores. Temem tornarem-se alvos e podem sentir-se incomodados e inseguros.
Saiba o que fazer
Para evitar o bullying é essencial promover a orientação, conscientização e discussão a respeito do assunto. Nem toda briga ou discussão deve ser rotulada como bullying para não cairmos no extremo oposto, da tolerância zero, que não vai permitir que estas crianças e jovens, que estão em fase de desenvolvimento, aprendam a viver harmoniosamente em grupo. A diferença entre um comportamento aceito e um abuso às vezes é muito tênue e cada caso deve ser observado e analisado segundo sua constância e gravidade.
Uma pesquisa feita recentemente em Portugal com 7.000 alunos mostrou que o local mais comum deste tipo de ocorrência são os pátios de recreios (78% dos casos) e os corredores (31,5% dos casos). Nestes locais há menos vigilância e as crianças não estão agindo de forma orientada, o que facilita comportamentos inadequados. Isso indica que os professores e funcionários da escola devem estar atentos em todos os momentos.
Os alunos devem criar regras de convivência e discuti-las com a equipe pedagógica, buscando soluções e respeitando as diferenças de cada um. Os pais devem ser ouvidos e orientados a colocar limites claros de convivência e ajudar sempre que souberem de algum problema ? sem aumentar ou diminuir a informação recebida.
Quando identificado um autor e uma vítima, ambos devem ser orientados. Seus pais devem ser alertados e estar cientes que seu filho, agressor ou agredido, precisa de ajuda especializada. O comportamento dos pais diante deste comunicado é muito importante, não se deve cobrar o revide, nem intimidar ou agredir. Este é um momento de aprendizado para todos e mostrar como controlar-se, manter a calma e evitar comportamentos de violência é imprescindível.
No Brasil, a Abrapia (Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência) começou a desenvolver, no Rio de Janeiro, um projeto com o patrocínio da Petrobrás, em 11 escolas públicas e particulares. O objetivo deste estudo é ensinar e debater com professores, pais e alunos formas de evitar que o bullying aconteça. Para mais informações, visite o site www.abrapia.org.br
Autoria:
*Rosana Maria Cesar Del Picchia de Araújo é mestre em Educação e Ciências Sociais pela PUC/SP e doutoranda em Educação e Ciências Sociais pela PUC/SP
** Katia A Kühn Chedid é Orientadora Educacional, formada em Pedagogia pela PUC-SP e especializada em Psicopedagogia
Publicado no site ClicFilhos